Borboletas
Li uma notinha no jornal, muito pequena, que dizia que, na Austrália, o costume de jogar arroz nos noivos, quando eles saem da igreja após se casar, foi substituído por outro tipo de arremesso: agora os convidados jogam borboletas no casal. Vivas, eu espero.
É um fato irrelevante e nem sei se é verdadeiro, talvez tenha acontecido uma única vez e já estejam dizendo que virou moda lá para os lados da Oceania, mas gostei da notícia, por todas as suas implicações.
Arroz é comida, comida lembra fogão, fogão fica dentro de casa: tudo muito prosaico. Arroz cru é duro, machuca. Sua cor é branco sujo, não deslumbra. E o mais grave: arroz não voa.
Borboleta é o símbolo da transformação, é liberdade e cor. Borboleta não morde, não pica, não zumbe, não tem veneno, não transmite doença, não pousa em cima da nossa comida. Borboleta é mais bicho-grilo que o grilo, deveria ser a legítima representante do paz e amor.
Arroz alimenta o corpo, a borboleta alimenta o espírito.
O que é mais importante em um casamento? A gente sabe que as pessoas não casam apenas porque estão apaixonadas. Casam também para unir as rendas, dividir despesas e ter filhos, formando uma equipe hipoteticamente mais preparada para sobreviver. Não parece tão romântico.
Quem dera casamento fosse mais leve, com menos comprometimento e mais fascínio, menos regras a seguir e mais espaço e liberdade para ser o que se é. Uma confraternização diária, uma troca de experiências e sensações individuais, uma colaboração espontânea entre duas pessoas, sem a obrigação da eternidade. Um acordo de estar junto na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, mas não necessariamente em todos os domingos, em todos os bares, em todos os cômodos da casa, em todos os assuntos, em todas as situações, em todos os minutos, em todos os desejos, em todos os silêncios.
Borboletas, com sua delicadeza e aparições raras, despertam o lúdico em nós. Já arroz é trivial e só é bom quando soltinho.